Quando houve a adaptação do romance “Garota Exemplar” de Gillian
Flynn para os cinemas muita gente reclamou do quanto a história do livro e do
filme eram “longas”. Mas colocar a história de Amy em um papel foi um desafio
que tanto Hollywood quanto Flynn cumpriram á risca, ouso dizer com excelência.
No caso de “Objetos Cortantes” Amy Adams está simplesmente impactante como
Camille, seguindo o texto e adicionando todo seu talento à um papel dificílimo.
Difícil, para falar o mínimo, está a situação em Wind Gap. Uma
cidade voltada por e para si mesma. Onde o pensamento tacanho e xenófobo impede
que uma investigação seríssima seja levada á cabo com eficiência. Onde por
suspeitas pobres um delegado persegue dois “suspeitos/condenados” aos olhos da
opinião pública. Camille e Amma buscam desesperadamente uma fuga para não
sufocar, uma no passado e a outra no presente diretamente impactadas pela “chefe
da cidade”, a mãe Adora.
O episódio me deixou profundamente impressionada por mostrar padrões
idênticos no comportamento dos jovens do presente e de outrora da cidade.
Camille se vê em Amma e a caçula deseja à exemplo de todo e qualquer
adolescente típico, tomar proveito da “fama” da “irmã pródiga”.
O crime de assassínio se perde em meio ao caos reinante de
relações tóxicas, frustrações e porque não dizer da tentativa desesperada de
Camille de terminar sua matéria e fugir de Wind Gap. Vontade compartilhada pelo
detetive forasteiro que apesar do esforço em resolver um crime, não encontra
cooperação em seu colega, que prefere seguir as leis de Adora do que da polícia.
Camille e Richard, como eu já esperava, compartilham muito mais do que o anseio
de sair da cidade. Chocante não é a cena de sexo entre eles (Gillian Flynn não
inspira falso puritanismo), mas saber que as marcas da jornalista a impedem de
um contato importante com o detetive, por se sentir marcada e suja, Camille não
mantém nem contato visual com ele. Amy Adams brilha mais uma vez!
Fechando com chave de ouro o episódio mostra um confronto entre
mãe e filha, que no cotidiano é bem normal, mas não há nada de normal na forma
com a qual Adora confronta Camille sobre seu comportamento. Como ela culpa a
filha mais velha por todos os seus problemas. A cena entre Amy Adams e Patricia
Clarkson ultrapassa o chocante, é revoltante. Especialmente quando de maneira
tão “baixa” Adora condena Camille e dá a ela o nome que dá o título do
episódio: “ripe” (ranço).
Mais uma vez, o caso do serial killer fica em segundo plano. Como
não ficar? Depois desse episódio só me restou respirar fundo e esperar pelo
troco de Camille.