Desde o primeiro instante é incrível
como Blatty conseguiu transformar uma notícia de um jornal local em uma
história cativante, mística e absolutamente aterrorizante. Ainda lembro da
primeira vez que vi o filme estrelado por Linda Blair e totalmente avessa aos
meus costumes, demorei anos para procurar pelo livro - arrependimento dói sim. É
claro que depois de ver e rever o filme, essa busca tão tardia de minha parte
se deveu ao fato de achar que o livro pouco teria a acrescentar à minha lista
de pesadelos. Tem sim. Aquela cena que você viu e que me fez ter pavor de
escadas por um tempo (mais ou menos até o presente instante), não é nem de
perto tão aterrorizante quanto a do livro. Sério.
O livro e o filme são bastante fiéis ao
iniciar a narrativa pela escavação histórica onde o padre Lankester Merrin
encontra um dos inimigos mais antigos da humanidade, pelo menos um de seus
servos: ídolos do demônio Pazuzu. Então sabemos, naquele sopro de vento
absurdamente deslocado no deserto, que passa para nossa própria espinha que a
batalha entre o bem e o mal vai começar. Infelizmente, não será fácil e quem
faz a vez de Jó (o humano que foi testado na fé e passou por todo tipo de
provação, segundo a Bíblia) na ficção é a estrela de Hollywood Chris MacNeil e
sua filha Regan (especialmente esta).
O livro inova ao trazer para o palco de
provações espirituais pessoas “descrentes”. Afinal na casa da senhora MacNeil
não se discute religião, até que um dia levada pela assistente de Chris -
Sharon, que faz as vezes de professora, Regan começa a procurar respostas no
campo da religião. Ressalto esse começo, pois depois de várias leituras, creio
que aí é que o “problema” de Regan começa. Diferente do filme, que trás um viés
absolutamente místico para o mais famoso caso de possessão demoníaca da
história do cinema, o livro insere com propriedade e firmeza fatores “mundanos”
para analisar o transtorno de Regan: é fácil acreditar em possessão demoníaca,
mas é possível ignorar o estresse da separação entre os pais em tão tenra
idade? E o poder da sugestão trazido por um livro que Chris ganha de presente?
A utilização de uma famigerada tábua Ouija? A personalidade do “Capitão Howdy”
que misteriosamente conversa com a menina através da tábua? Teriam eles
influenciado na doença de Regan?
Sinceramente, depois de tantas leituras
deste e de outros livros sobre o assunto, depois de ver outros filmes, séries,
documentários sobre o assunto e de ser declaradamente ateia, confesso que não sei
se o que aconteceu com Regan poderia ser explicado por um viés puramente
científico. Corro o risco de ser chamada de falsa ateia, entre outros termos
que sinceramente não me ofendem. O que importa é ter uma opinião, e se ela não
é definitiva, creio que nossa vida só fica mais interessante. Não esquecendo
outro personagem importante do livro, prefiro me posicionar junto ao detetive
Kinderman: de presente ele ganhou um caso não solucionado, várias mortes
misteriosas e a certeza de que um caso tão incomum te leva a procurar a
resposta em vários campos. O misticismo e a ciência são apenas alguns, quantos
mais ignoramos?
É óbvio que eu recomendo a leitura de O
Exorcista. Seja você ateu, judeu, cristão, gnóstico ou indeciso. Acima de tudo,
vai te deixar com aquela “pulguinha” atrás da orelha e te fazer buscar mais e
mais conhecimento. Isso não é maravilhoso? Somente um clássico te traria esse
prazer. Boa Leitura e “Ego te absolvo”.
Muahuahuahua.