SPOILERS ABAIXO:
Sempre que falo para algum amigo
começar a assistir Doctor Who, a maioria vem com algo como “ah, essa série é infinita”. Não
é à toa que é considerada como a série de sci-fi mais longa da história (e
também como a série de sci-fi mais bem sucedida). Apesar da que começou em 2005 não ser muito
afetada pela clássica (que foi ao ar entre 1963 e 1989). Mas também nem mesmo dá
para tentar convencer o contrário, depois que percebemos que estamos
apaixonados pela série, a vontade de começar a popularmente conhecida Classic Who é enorme. Precisa um pouco
de coragem para assistir os quase setecentos episódios, mas para um whovian, é
possível lidar com isso. Se organizar certinho, todos os episódios são
assistidos. Então, caso você esteja aqui por curiosidade quanto a era clássica
ou para saber mesmo o que acontece (com intuito de decidir se assiste ou para
saber sobre a série sem precisar assistir), dou meus cumprimentos: seja
bem-vindo e espero que goste tanto da clássica quanto eu estou gostando.
Ainda não finalizei a Classic
Who, para ser bem realista eu apenas terminei a primeira temporada, faltam mais
outras vinte e cinco (screams internally).
Mas pelo lado positivo, ainda está tudo muito fresco em minha cabeça, que
convenhamos, é a melhor condição para poder opinar em algo, não é mesmo?
Mas antes de começar o tour pela era clássica dessa tão
aclamada série, vamos fazer algumas breves explicações:
Sério que o nome do personagem é Doctor?
Olha, nome de nascença não é.
Nunca, nessas quase quarenta temporadas da série, foi revelado o verdadeiro
nome dele, mas o Doctor se apresenta como Doctor porque "o nome que você
escolhe é como uma promessa que você faz", uma crença dos Time Lords. E isso condiz perfeitamente
com o que sempre observamos dele: seu principal objetivo é “curar” o
universo. O Doctor não usa armas e sempre surge quando alguém está com
problemas e/ou sofrendo. Por isso é comum que, ao chegar nesses lugares e se
apresentar, as pessoas soltem um: Doutor quem?
E que caixa azul é aquela?
É a Time And Relative Dimensions In Space, mas
para os íntimos é somente T.A.R.D.I.S.
Foi nomeada por Susan, neta do
Doctor original, ou seja, o 1st. A princípio foi criada com um “circuito
camaleão” que se adaptaria conforme o local e a época, mas como dinheiro não
nasce na terra, decidiram que não iriam mudar o formato da nave. Logo no
episódio piloto, Susan explica que a TARDIS mudava, mas que após adaptar para a
cabine telefônica policial, o sistema travou, impossibilitando as mudanças.
Composta de oito arcos, a série
já começou me chocando ao mostrar seus quarenta e dois episódios. Mas tentei
permanecer tranquila, afinal, de arco em arco a gente consegue terminar a
temporada. O primeiro, An Unearthly Child, foi muito fraco, devo admitir. Os
personagens ainda estavam se conhecendo, os atores se ajustando e a produção
recebendo o feedback do público. Tudo isso acontecia nos primórdios da
humanidade, onde os humanos ainda viviam em caverna e mal conheciam o fogo.
Fomos apresentados aos três primeiros companions do Doctor. Três? Sim, três!
Nós tão acostumados com um ou dois nas temporadas atuais, ficamos surpreendidos
ao ver a série iniciando logo com três.
A mais experiente era Susan, pois já
viajava com ele, afinal, ela é a neta do próprio! E os mais velhos, porém,
totalmente novos no assunto de viajar no tempo e espaço, Barbara e Ian,
professores da escola que Susan frequentava. A neta do doutor se mostrou uma
personagem nada digna de sua posição. Seus gritos quase sempre desnecessários,
estouravam os tímpanos. Não vi ninguém, a princípio, gostar da personagem. E o
Doctor? Também não caiu nas minhas graças de primeira. Com uma personalidade
muito longe da humana que somos
acostumados a ver na série atual, suas falas geralmente eram seguidas do gesto fala com o batman feito por mim. Eu
tinha mesmo que continuar a assistir uma série cujo os principais não me
agradavam nem um pouco?
Tinha! Era Doctor Who e havia
tanto Barbara como Ian para segurar as pontas enquanto a evolução dos outros
dois personagens acontecia.
O segundo arco, The Daleks, nos
foi apresentado o maior inimigo do Doctor de todos os tempos: os Daleks. Não
havia tanto ódio, a grandiosidade da história ainda não existia, mas com
certeza já havia o famoso Exterminate! Exterminate!
Exterminate!, apesar de não serem uma raça tão fria quanto é hoje. Existia
também uma “guerra” acontecendo, uma com os Thals, povo que dividia o planeta
Skaro com os Daleks. The Edge of Destruction foi curto, mas muito interessante
pois mostrou pela primeira vez que a TARDIS tem consciência. Todo mundo ali
ficou meio louco, foi meio estranho.
Chegamos no arco mais cansativo
de toda temporada: Marco Polo. Por quê? Bom, a BBC, no passado, teve a
maravilhosa ideia de destruir algumas cópias únicas da série a fim de liberar
espaço. Ah, Doctor Who? Não vai muito pra
frente, não vai fazer diferença, vamos jogar fora esses negócios e liberar
espaço. Foi o tempo de alguns fãs descobrirem isso e já começou a loucura
de “wow, a série realmente pode dar lucro futuramente”, mas a BBC descobriu
isso apenas depois de destruir quase cento e dez episódios da década de
sessenta. O arco Marco Polo está entre esse número. Por isso é o mais
cansativo: ele é inteiro recon. Recon basicamente é um episódio reconstruído
com fotos e áudio. É, é uma fotonovela com áudio. Sete episódios recon. Sete. Não preciso comentar mais nada. Vamos para o próximo arco?
Em The Keys of Marinus eu já
estava elegendo Barbara como a nova 1st Doctor. Até o momento, ela ocupa a
primeira posição na minha lista de melhores companions. Mulher extremamente
inteligente e independente, fiquei encantada com a maneira que ela lidava com
as situações, muitas das vezes até mesmo melhor de que o próprio Doctor (por isso
minha substituição). Ela saía das situações com muita sorte e facilidade. Posso ser
repetitiva ao falar em quanto fiquei fã dela nessa primeira temporada?
The Aztecs e The Sensorites foi essencial para
mostrar a evolução tanto do Doctor quanto de Susan. Ele começou a mostrar ser o
doutor que amamos conhecer e Susan deu um descanso para suas cordas vocais ao
parar com a gritaria. Aliás, é digno de comentar que The Sensorites foi o primeiro
arco no futuro, com humanos do futuro e aliens – não estou contando com o Doctor e Susan, obviamente. Apesar do roteiro continuar na
mesma fórmula (eles chegarem em um local e as duas maiores autoridades de lá se
dividirem: uma acredita e ajuda, a outra é desconfiada e quer prender todos os intrusos), é possível notar o amadurecimento
da direção e as falas mais estruturadas. E, assim, Doctor Who começa a solidificar sua forma. Como foi Marco Polo, em The Reign of Terror tem episódios perdidos, mas a diferença entre os arcos é que enquanto Marco Polo foram todos os episódios e eles apenas em recon, The Reign of Terror, dois de seus seis episódios foram reconstruídos em animação. Não é uma esplendorosa, mas certamente a experiência de assistir o arco foi muito mais tranquila do que em Marco Polo. Esses dois episódios foram feitos em animação para serem lançados em um DVD do arco em 2013.
Quando vocês eram menores, algum
parente ficava comentando sobre como eram as produções no tempo em que eles
eram crianças? Comigo acontecia muito isso. Vivia escutando sobre as maquetes e
em como pareciam reais para eles na época. Com Classic Who pude observar muito
bem isso. Não que elas aparentavam serem reais, mas sim que era um recurso
muito utilizado. Como, por exemplo, para ter uma cena do alto e aberta da TARDIS, a
produção recorria a maquetes para fazer isso. O que dizer das atuações?
Certamente elas melhoraram muito daquela época para cá. As caras e bocas, os dramas desnecessários e os
movimentos precisamente marcados sempre fazem com que uma risada e outra escape
durante os episódios. Principalmente nas cenas de luta. Ah, as cenas de luta...
Fazendo um saldo final da
primeira temporada, digo que: a princípio, Doctor Who aparentou muita
despretensão ao mostrar viagens em lugares aqui na Terra, às vezes o próprio
Doctor e Susan mostravam certa inexperiência em aventuras, o que contradiz um
pouco a própria garota que volta e meia conta um pouco de algumas de suas
viagens com o grandfather. Mas então
tudo vai melhorando, desde o destino das viagens até o desenvolvimento dos
personagens. Ainda acho Barbara a melhor entre os quatro, seguida por Ian, só
então depois vem o Doctor e Susan. Essa formação ainda permanece na segunda
temporada, apesar de que, pelo o que já andei olhando, não muito tempo depois a
troca é feita (e eu morrendo de vontade de conhecer as outras companions). Mas
no fim das contas, gostei da primeira temporada, o final fez bem seu papel de
criar certa ansiedade para a seguinte.
Curiosidade: por ter tido 42
episódios, a primeira temporada da Classic Who ficou por quase um ano inteiro
no ar. Já pensou se isso existisse hoje em dia? Teríamos o pró de não entrar em
um poço de tristeza e saudade por causa do hiatus, mas o contra certamente
seria que enjoaríamos com facilidade, já que hoje tudo é muito passageiro, inclusive
no mundo das séries.
Esse texto foi escrito por: Helena Souza