Senta que lá vem textão. E tem spoiler.
Mesmo após tantos meses se
passando da estreia do Episódio VII, algo ainda entala em minha garganta ao
falar dele, ou melhor, algo freia meus dedos ao teclar essas palavras. Como fã
incondicional de Star Wars, tenho o coração aquecido com a ideia de ver a
franquia reviver, culminando na oportunidade de ver o letreiro amarelo rolar
pela tela ao som da trilha mais icônica da história do cinema, mas preciso
desabafar meus receios. Se a segunda trilogia pecou pela originalidade sem
cautela (não aceito midi-chlorians!) talvez a terceira peque por estabelecer um
universo excessivamente distante das arestas da zona de conforto e acabe
transformando toda a franquia em uma árvore genealógica da família Skywalker.
Em todas as minhas
publicações procuro plantar no leitor a curiosidade por ver a obra, por
descobrir o desfecho que meu resumo sem desvendar muito do plot por ventura
aflore. Em “O despertar da Força”, no entanto, preciso adentrar inevitavelmente
a zona de spoiler, então se ainda não teve a oportunidade de dedicar algumas
horas ao passeio por uma galáxia distante, o faça e retorne em seguida, teremos
desavenças e concordâncias referentes às impressões. Comecemos pelo final, como
George Lucas nos ensinou...
No final de 2016 teremos
Rogue One, filme que se localiza na linha temporal entre os episódios III e IV,
contando sobre o esquadrão que conseguiu capturar os planos da primeira Estrela
da Morte, processo vital nas vitórias posteriores da Aliança Rebelde sob o Império
Galático, com a explosão dessa colossal arma. Obstinados em sua causa, a
construção de uma nova Estrela da Morte por parte do Império alavancou a luta,
agora resumida a descobrir a sua localização, uma vez que a engenharia da
estrutura já era de conhecimento rebelde. Para a minha surpresa, e
desapontamento, o episódio VII traz novamente uma Estrela da Morte sob a
disfarçada alcunha de “base StarKiller”, maior e com potencial devastador
elevado comparado às antecessoras.
Uma
arma colossal a ser destruída. Uma jovem e humilde figura oriunda de um planeta
deserto ansiada por engajar-se numa luta que a liberte da vida ordinária. Um
droide com informações importantes que precisa chegar às mãos dos rebeldes. Um
vilão mascarado misterioso extremamente poderoso e intimidador. Uma donzela em
perigo que definitivamente não depende de constantes salvamentos e é capaz de
subjugar seus opressores. Um amigo improvável que inicialmente tem interesses
individuais, mas acaba se unindo à causa. A fuga marcante a bordo da Millenium
Falcon. A descrição anterior, caros leitores, serve tanto para o filme de 1977
quanto para o de 2015. Acredito ter deixado claro meu incômodo com a zona de
conforto sequer arranhada pelo filme de JJ Abrams, pois a história
é essencialmente a mesma.
Por
mais que não tenhamos uma obra nota 10, temos de fato novidades interessantes.
Rey (Daisy Ridley) protagoniza a nova fase alavancando a representatividade
feminina a um patamar inédito na franquia. Leia (Carrie Fisher), agora General,
foi o símbolo de força de uma geração, mas sempre ancorada à sombra do irmão,
Luke (Mark Hamill), o protagonista clássico que traça a jornada do herói. Como
as comparações são inevitáveis, exemplificadas no parágrafo anterior, Rey é
Luke e Luke é Yoda. A catadora deixada na infância em Jakku tem o necessário, e
até de sobra, para empunhar essa responsabilidade. Espero de Rey algo
grandioso, uma vez que se mostra poderosa no manejo da Força, que de
engatinhando passa em poucas cenas à corrida.
O
uso da Força, no adendo do assunto, é talvez o tópico mais polêmico do filme,
porém, como o título bem sugere, ela despertou (felizmente tratada ainda como
uma espécie de religião arcaica, fugindo do ridículo conceito já citado no
início do texto). Além de Rey, Kylo Ren (Adam Driver), neto de Darth Vader, é
aparentemente mais poderoso que o avô, parando blaster em pleno trajeto e
torturando mentalmente Poe Dameron (Oscar Isaac) na obtenção sucedida de
informações sobre os contraventores de sua causa, a Nova Ordem. É importante ressaltar
que apesar do espetacular manejo da Força, não possuem treinamento completo, ou
nenhum treinamento no caso de Rey.
Rey
não é uma Jedi e Kylo Ren não é um Sith, as nomenclaturas clássicas são termos
usados apenas para referenciar “lendas” antigas, o que deixa a figura de Snoke
suspensa numa áurea de névoas. Quando ordena que Kylo “termine seu treinamento”,
constrói teorias inúmeras em torno de seu poder e extensão de sua atuação, as
quais não citarei porque nenhuma explica satisfatoriamente o personagem em meu
ponto de vista, exercendo aqui o meu direito em requerer novidades não tão
facilmente explicáveis como tem parecido no primeiro filme da nova trilogia. Um
último detalhe de Kylo é seu temperamento instável e sua interessante luta para
se manter no lado negro, uma vez que é constantemente chamado para a luz. Não
esqueçamos que Vader fraquejou ao matar o filho, já Kylo não hesitou em matar o
pai. Vader tinha uma motivação balançada, da época que ainda era Anakin, já Kylo
tem motivações ainda obscuras, porém claramente mais fortes onde há um
potencial absurdo para seu futuro, não ousem duvidar dele.
Ao
ler “Marcas da Guerra”, livro publicado no ano passado pela editora Aleph,
esperava, por boatos da internet, ter um vislumbre elucidativo sobre os
chamados “Cavaleiros de Ren”, que aparecem poucos segundos no trailer e no
filme. No livro, o máximo que temos é um grupo atrás de relíquias de Vader, que
inclusive picha paredes com “VADER VIVE”. Não acredito, porém, que tenha
relação direta com o grupo estabelecido na figura de Kylo e seus companheiros,
que ganham o “Ren” em seus nomes. Recomendo, no entanto, o livro por discutir
questões políticas. Algo muito claro no episódio VII é o surgimento da Nova
Ordem e a Resistência fortalecendo-se para bater de frente com o antagonista, o
que deixou alguns espectadores se perguntando sobre o sucesso obtido no final
do episódio VI. Em termos curtos, os ideais do Império contaminavam a galáxia,
sendo apenas o começo da luta a vitória em Endor.
Por
Finn e não menos importante (trocadilho obrigatório), temos uma nova leva de
alívios cômicos que são um dos poucos aspectos unânimes de aprovação entre os
fãs. BB-8 preenche a cota de droides fofinhos que esgotam das prateleiras das
lojas de brinquedo em um “UOON” de sabre de luz e Finn (John Boyega) conduz as
situações de estresse com a leveza de que só quem irrita Han Solo é capaz de
alcançar. E Bobba Fetts, querido leitor, não são criados, eles simplesmente
acontecem; vimos pouco de Phasma e sua imponência prateada, mas ganhamos o
icônico “TRAIDOR”, uma troca justa eu diria. A humanização dos Troopers é o
ponto mais alto do filme; não são clones, não são completamente
submissos, o que acaba rendendo a cena mais hilária de “O Despertar da Força”.
Sobre
Luke, Hammill nos presenteou essa semana com uma cena que PRECISA estar no Episódio
VIII e que você encontra no final desta publicação. Em linhas gerais, cheguei a
uma teoria interessante ao escrever esse texto, que tanto me custou esforço e coragem
para explorar esse universo com o qual tenho uma relação tão pessoal: Os Episódios
que não tem ou não mencionam a Estrela da Morte são inferiores, mas conto com o
VIII para provar-me errada (CHEGA DE ESTRELAS DA MORTE). Que a Força esteja com
vocês e com Jyn Erso, não esperamos menos do que o incrível de Rogue One.
Esse texto foi escrito por: Jaqueline Buss