Primeiramente gostaria de
deixar o leitor ciente do fato de que o texto a seguir não adentra a zona de
spoilers, até porque, se você viu o material promocional lançado em vídeo, essa barreira
já foi violada. A presente postagem não incluirá o trailer no final
justamente por esse motivo, o pouparei dessa síntese dos eventos principais. No corte final do filme percebe-se o encaixe de cenas complementares à essa história desvelada em poucos minutos. O vilão está lá, a motivação está lá, a
incrível introdução da Mulher Maravilha está lá e o grande embate final no
último ato do filme também está lá. Rude.
Não pense, por outro lado, que o filme nada tem a
oferecer além disso. Há cenas memoráveis e um desempenho espetacular de alguns
personagens, como o Bruce Wayne/Batman de Ben Affleck. Deixando os atores
anteriores parecendo versões LEGO carismáticas do personagem, o Batman do diretor Zack Snyder é amargurado, opressor, feroz e desacreditado. Nolan estabeleceu com
Bale uma versão louvável, porém inicial. Após 20 anos enfrentando Gotham nas
suas piores cores, o Morcego pode ser, agora, referenciado aos traços de Frank
Miller, à brutalidade dos games recentes e à total quebra dos códigos estabelecidos
anteriormente no cinema. Em síntese, Bruce está literalmente de saco cheio da
podridão do mundo e pegará pesado com ele.
Complementando o peso que as últimas décadas impõem à
Wayne estão os constantes sonhos que o atormentam. Revisitamos o maior dos
traumas de Bruce, a perda dos pais, mas principalmente, a ameaça potencial que
um alienígena super-poderoso oferece. Ao contrário de Tony Stark, em Homem de
Ferro 3, que ao se deparar com situações estressantes perde o sono e o
controle, Bruce parte para a ação. Se há 1% de chance de Superman ser uma
ameaça maior que seu benefício para esse mundo, ele está determinado a
subjugá-lo. É seu mundo, sua cidade, sua humanidade.
Espero ter deixado claro até
aqui o quanto apreciei o tão temido Batman de Ben Affleck, pois no saldo final
ele superou qualquer expectativa. Hora de falar de Superman. Clark Kent parece
ter se encaixado no mundo, estabelecendo toda sua existência no eixo de Lois
Lane, o que é compreensível. O Kryptoniano, assim como o Morcego, está sombrio,
o que pode ser detectado por sua expressão impiedosa e o brilho vermelho
constante em seus olhos. O embate de gladiadores é eletrizante, as cenas de
ação são bem construídas, porém a evolução até elas é confusa. Por mais que a
personalidade de ambos escancare em tela, a montagem da obra, que oferece
cortes esdrúxulos entre cenas sem conexão, me deixou pensativa quando as
luzes do cinema se acenderam... Será que Snyder não renegou para a versão
estendida perspectivas cruciais para a construção da trama?
Partindo para os
secundários, Lois Lane é o maior erro, em minha humilde opinião. A
personagem forte que luta por seus ideais no filme solo do Homem de Aço é
reduzida aqui à donzela em perigo, ao ponto fraco do herói em cena; nem
kryptonita o deixa tão vulnerável. A única oportunidade de Lane destacar-se
como relevante e mostrar a que veio lhe é tomada quando coloca-se numa situação
de estresse na qual necessariamente precisa ser salva. Em primeiro momento,
após uma visualização do filme, não fui capaz de perceber uma única cena em que
o teste de Bechdel fique orgulhoso. A clássica donzela em perigo há muito tempo
entala na garganta de um público sedento por representatividade. 2015 nos
encheu os olhos com Furiosa, 2016 não pode nos fornecer essa versão de Lois
Lane.
Confesso ao leitor
que Gal Gadot demorou a me convencer. Foi preciso uma afirmação de pé firme que
Batman vs Superman (2016) foi realmente capaz de elucidar-me. Diana Prince
é forte em todos os sentidos possíveis e entra em cena segurando a atenção de
todos, claramente mostrando-se capaz de facilmente subjugar os protagonistas
que aparecem no título do filme. A primeira aparição da Mulher Maravilha, uniformizada e pronta para o combate, é o
que me tirou do estágio levemente letárgico que uma sessão de pré-estreia à
meia-noite pode eventualmente acarretar. A trilha sobe e ganha ferocidade, o
olhar fixo da heroína expressa poder e confiança. Maravilhosa em todos os
sentidos possíveis, queremos ser Gal Gadot, queremos ser a Mulher Maravilha.
O subtítulo “Origem da
Justiça”, do original “Dawn of Justice” é nitidamente uma referência à
introdução da Liga da Justiça ao universo cinematográfico da DC. Antes da
estreia do filme, o estúdio confirmou a aparição de Flash, Ciborgue e Aquaman.
Não espere a sutileza das cenas pós-créditos ou as referências singelas aos
novos personagens, sua inserção é escancarada e de certa forma absurda. Os segundos
dedicados à Ciborgue contam sua origem. Flash tem a cena mais interessante.
Aquaman, apesar do visual incrível, tem algo de errado (talvez seja o absurdo fato
de estar inegavelmente PRENDENDO A RESPIRAÇÃO NA ÁGUA). A motivação é duvidosa
e a introdução é estranha. Tire suas próprias conclusões.
Por fim e definitivamente
NÃO menos importante, falemos de Lex Luthor. A interpretação de Jesse Eisenberg
convence e o papel de Lex é primordial à trama. Vários elementos e movimentos
de roteiro dependem de sua intervenção, inclusive no embate final com a criação
do “Diabo” que matará “Deus”, uma vez que o homem não o fez. Ostentando uma
mente psicótica que transborda em cena, por olhares, palavras e principalmente
frases feitas exageradas, é um dos pontos positivos mais destacados do filme.
Em
síntese, é um bom filme. Coloco aqui “bom” como resultado de uma montagem
confusa, introdução duvidosa da já em processo de filmagem “Liga da Justiça” em
contraponto aos excelentes desenvolvimentos de personagens e cenas de ação. Como
prometido, não haverá trailer no final da postagem, vá ao cinema com a benção
da ignorância se ainda a detém, tenho certeza de que seu veredito se tornará
consideravelmente melhor. E sim... Superman sangra (de leve, duas gotinhas,
sutilmente).
Obs:
Para suprir a ausência do trailer, fiquem com uma imagem da poderosíssima
Mulher Maravilha na companhia de Rainha Hipólita, General
Antíope e Menalippe, divulgada recentemente pela Warner em relação ao
filme solo da personagem.
Esse texto foi escrito por: Jaqueline Buss