Deadpool deixou de ser um
privilégio dos leitores de Histórias em Quadrinhos desde que Ryan Reynolds
abraçou essa causa, você conhece Deadpool, aquele sujeito no traje vermelho que
tem dominado a internet nos últimos meses, que tem saciado a sede dos que
sangraram perante cenas em certo filme solo de um personagem que rima com
Polverine, em 2009, você abraçou a ideia, você acreditou na redenção quando lhe
foi prometido o filme que ele merece. Deadpool tem plena consciência de que
você o assiste e ele não vai te decepcionar.
Situando o leitor, Wade
Wilson (Ryan Reynolds), um ex-oficial das Forças Especiais, é diagnosticado com
câncer terminal, a solução para sua condição é encontrada em uma experiência
científica que o torna esteticamente desagradável aos olhos, porém o mune com o
fator de cura que o regenera e lhe proporciona novas habilidades de combate, um
traje em spandex e muita tagarelice. Com
classificação indicativa de 18 anos no mercado norte americano, trazida ao Brasil
com a de 16, a obra de Tim Miller compromete-se em apresentar uma versão sem
cortes apesar da diferença etária.
Com um desenrolar de enredo
simples e sem grandes surpresas, arrisco-me a dizer que esse é um filme sem spoilers. Nada de extraordinário
acontece na trama, o vilão é ordinário, não há grandes riscos e o baixo
orçamento é nítido nos efeitos das cenas finais, mostrando que o investimento no
longa foi curto (perdão pelo trocadilho). Por outro lado, a história pauta-se
completamente nos personagens, e eles não deixam a desejar. Atuações adequadas,
trajes fiéis e violência na medida, sempre
justificada com humor, anulam meu argumento anterior. Não sairemos do cinema
com questões filosóficas provindas de um coelho gigante ou buracos de minhoca,
mas sairemos felizes.
Vanessa Carlysle (Morena Baccarin) é
um par romântico convincente, corações coloridos e unicórnios mágicos circundam
as cenas de amor do casal, no bom sentido. Weasel (TJ Miller) é o melhor amigo
clássico que complementa o humor. As cenas com Dopinder (Karan Soni) mostram a
falta de empatia de Deadpool, algo geralmente presente nos heróis, se é que é
possível que até esse ponto alguém ainda encare Wade como tal. Sendo leitor
assíduo ou experimentando o primeiro contato com esse universo, a história
inegavelmente cativa o mais gelado dos ranzinzas.
É importante falar sobre
Colossus e Míssil Adolescente Megasônico (que, aliás, tem a alcunha mais
original de todos os tempos, ou a mais estranha). Os únicos X-Men que a
produção foi capaz de pagar, como Deadpool nos informa, incorporam a trama no
já estabelecido universo construído pela Fox ao longo dos anos. Teremos X-Men
em Deadpool e provavelmente Deadpool em X-Men, torçamos então para que o sinal
verde do estúdio que deu total liberdade para a execução da obra não queira
impor limites no animal feroz que foi solto. Quebrando a 4ª parede o filme
deixa claro que não se leva a sério, aconselhando diretamente que ninguém o faça.
Nas palavras de Ryan
Reynolds, o processo de produção do filme foi o pior relacionamento em que
esteve envolvido, consumindo dele 11 anos de esforço e centenas de
desistências, mas é inegável que a prole de tal jornada valeu a pena. Deadpool
não é o melhor filme do ano, ou a melhor adaptação de HQ já feita, porém sana a
expectativa criada e nos dá exatamente o que esperávamos dele. Se fosse uma
comida, Deadpool (2016) seria uma chimichanga incrivelmente bem feita, ou
milhares de panquecas no café na manhã. Em síntese, Deadpool tem a leveza de
alguém que encara a Morte de perto e lhe dá uma piscadela marota.
Esse texto foi escrito por: Jaqueline Buss
Assista ao trailer do filme: